quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Desnecessária agressão

Impressionante a nossa semelhança com os outros animais!

Sabe aquela frase “o animal só ataca quando se sente ameaçado ou em busca da própria sobrevivência”? Pois com o ser humano não é tão diferente. Muitas vezes atacamos outras pessoas buscando nos preservar, nos defender. Só que acabamos nos agredindo ao mesmo tempo em que nos defendemos.
E que agressão é essa?
O cachorro morde quando se sente ameaçado, a galinha bica, o gato arranha, etc. O ser humano reage de forma diferente, pois nossa evolução torna esses mecanismos de defesa mais sofisticados. Embora tenham a mesma função na sua essência, em vez das agressões físicas (que nem sempre são evitadas), o homem se defende com palavras e ações que possam garantir sua segurança física e emocional.
Da mesma forma que um cão desconfiado tende a morder desnecessariamente, o ser humano agredido emocionalmente se protege atacando antes de ser atacado. É só lembrar daquelas pessoas que não agüentam ouvir uma reclamaçãozinha e já estão apontando defeitos, gritando, virando as costas e saindo com raiva, etc. Para o que se sente previamente agredido quase tudo se torna agressor.
Certo, mas e daí... para quê tudo isso? Se fizéssemos uma avaliação do desgaste de diversos relacionamentos que mantemos poderíamos perceber que nossos comportamentos podem estar sendo extremamente agressivos para o outro. Antes que minha mulher venha a falar comigo da minha desorganização encontro uma forma de acusá-la de algo problemático para mim causado por ela. Procuro me defender antes de ser agredido.
Dessa forma, dá-se início a uma discussão interminável na qual cada um insiste em defender um determinado assunto que não tem nada a ver entre si. Afinal, não posso perder a razão, pois se isso acontecer ela pode reclamar comigo de diversas outras coisas e não terei argumentos para combatê-la. Digo combater, pois muitas vezes se torna uma guerra, na qual ambos saem feridos.
A última coisa que um ferido quer é ser agredido. A insegurança e a mágoa são feridas emocionais que quando cutucadas tendem a ter uma reação agressiva inconsciente do sujeito. Pode acontecer de uma pessoa estar gritando ou xingando a outra e no fundo estar segurando um choro ou desejando para que esse momento acabe logo, pois não quer ficar brigando com que tanto gosta. Esses comportamentos são mais freqüentes do que se imagina e, mesmo no momento da briga, parece que é difícil parar de agredir o outro, principalmente quando há uma insegurança envolvida.
Por mais irônico que possa parecer, a gente acaba ficando cego às necessidades daqueles que nos são mais próximos. A caridade se manifesta em diversas situações na ajuda econômica aos mais necessitados, mas poucas vezes percebemos que aquela pessoa que residimos de alguma forma precisa de nós.
Sem ir muito longe, isso acontece diariamente. A convivência com aqueles que nos são importantes parece que constrói uma casca ou barreira que impede que sejamos mais perceptivos as pessoas ao nosso redor. A indiferença surge como resposta corriqueira e, aos poucos, vai afastando com pequenas (ou grandes) agressões as pessoas que gostamos.
Talvez essas nos pequenos gestos sejam ainda piores do que as verbais. Imagine um filho cujo pai autoritário lhe despertou desconfiança a um ponto que qualquer tentativa de aproximação desse pai é ignorada pelo filho. O pai, por sua vez, ao se sentir inseguro e ameaçado na sua função, impõe limites e força convivência com o filho que cada vez mais se afasta dele. Esse filho encontra na indiferença uma forma de lidar com o pai e evita o contato com o ele, mesmo que o desejado seja o oposto da situação atual. Esses pequenos gestos vão destruindo a possibilidade de nos aproximar de quem amamos.
Os relacionamentos não precisam ser preenchidos de vazio. O que sentimos de afeição pelo outro pode estar claro para nós, mas em muitos momentos este não as percebe ou não as identifica como reais. “Será que ela gosta mesmo de mim?”. Muitas discussões e feridas emocionais poderiam ser evitadas se conseguíssemos perceber aquilo que é significativo para as pessoas que convivemos.
Ignorar isso pode parecer mais simples, pois não há uma implicação das conseqüências do que fazemos para nós e para o outro. Alguns relacionamentos se tornam difíceis não por falta de amor, mas por falta de demonstração ou compreensão do momento do outro. Daí surgem as agressões desnecessárias e as discussões que poderiam ser evitadas. Se pararmos para pensar, com um simples gesto ou uma palavra podemos modificar o mundo da pessoa por um dia. Que seja para melhor!